Tempo de reconfigurar: percepções do passado, ideais de futuro e as consequências para as escolhas do presente.

O Governo do Estado de São Paulo anunciou, em 24 de junho, que as escolas só voltarão a funcionar parcialmente a partir do dia 8 de setembro de 2020. Hoje, dia 26 de julho, não sabemos se esta decisão pode ser confirmada. Datas se tornaram fictícias e pouco mensuráveis nesse período. Enquanto isso, outros serviços voltaram a funcionar. Convivemos com mesas vazias ou lotadas em restaurantes, assustados ou intrigados com o “novo normal”! Lidamos com diversos acontecimentos, entendendo as situações vividas e enfrentando os sentimentos que emergem em cada um de nós.

Muita coisa mudou, e não mais voltará a ser como antes, mas ainda encontramos pessoas esperando (tempo da espera/expectativa/espectador) que a vida seja retomada e volte ou continue de onde parou. Movimentos de apego ou desapego.

O que vem pela frente? Como fazer planos enxergando um futuro embaçado? Que espécie de ator ou espectador eu, você e nós somos?

Há quem aproveita a oportunidade da espera, da pausa, para se reconfigurar. Outros preferem manter o status atual, apresentam dificuldades de aceitar mudanças e avançar nas possibilidades. Sequer se dispõem a enxergar, talvez pelo medo do desconhecido. O que será que o impede? Resistência? Negação? Mecanismos de defesa ante o desconhecido aparecem como forma de autoproteção.

Ainda existe um movimento coletivo, que faz parte da nossa humanidade. Ao nos depararmos com o novo, o reconhecemos e representamos de acordo com um universo conhecido. Isto se chama ancoragem – reconhecemos pensamentos, pessoas, objetos ou eventos a partir de conhecimentos e ferramentas que já temos. Por exemplo, ao conhecer alguém – como se veste, marca das roupas, cabelo –, já faz pensar que sabemos como ela é. Fazemos isso automaticamente; na história da humanidade, fizemos isso inúmeras vezes. Quando surgiu a AIDS, muitas definições das causas dos sintomas se ancoraram em conceitos religiosos, castigos, certeza da impossibilidade de contato devido a um possível contágio. Sabemos hoje que nada disso era verdade. Atualmente, vivemos algo semelhante.

Do ponto de vista coletivo, há inúmeras versões sobre as causas do surgimento da Covid-19, assim como diferentes pontos de vista do que pode tratar a doença, curar etc. Muitas, travestidas de ideais políticos, ideológicos e interesses financeiros, manifestam-se com a consciência ou não dos interlocutores.

Sob a ótica individual, tem-se muito a analisar. Começamos pelo apego ao passado. Quantas vezes ouvimos eu só quero minha vida de volta, quando tudo voltar ao normal, vai durar no máximo dois meses, tenho certeza de que em agosto já estaremos em aula, agora tenho certeza que não passa de setembro?

Queremos sempre estar seguros com as explicações acerca do que vai ocorrer. Lidar com o incerto é um drama humano. O apego ao passado, pode alimentar uma segunda característica muito importante para cada indivíduo: o medo do futuro, que desnutre as possibilidades de nos apoderarmos da configuração do nosso futuro. Seja qual for sua formatação, sabemos que já vivíamos um esgotamento do modelo dominante do passado.

Parar para pensar em novos modos de viver, inúmeras outras possibilidades para mim e o mundo, é um movimento que não pode ser desperdiçado pelo apego ao passado. Este pode se transformar na desconstrução de novas possibilidades e no esvaziamento da capacidade de construir novas maneiras, mais sustentáveis de viver.

Como vivemos a falência do status quo, e não conhecemos nem sabemos o que está por vir, (o que provoca sensação de perda quase total do controle sobre nós mesmos), temos dificuldades de planejar o novo. É preciso aceitar essa falência para nos dispormos a enxergar possibilidades. Quando falamos em aceitar, não propomos, não decretamos o enterro da vida. Estamos indicando que nossos modos de vida estão, e já estavam falidos, mesmo que não do ponto de vista individual, mas com certeza do coletivo.

Aceitar que a vida necessita mudanças é o primeiro passo para nos permitir novos projetos, o que demandará ações focadas.

Além de enxergar possibilidades, precisamos saber aproveitar nossas potencialidades e desenvolver novas capacidades, pois isso fará a diferença no futuro. Assim, teremos mais oportunidades pessoais e profissionais. Há quem viva lamentando a perda do passado, enquanto outros seguem determinados à reconstrução, recapacitação e revisão.

Uma boa pergunta é: o que faço da minha vida pessoal e profissional tem futuro? Se não tem…. se mova!

O que pode me ajudar a agir assim? Não há receita de bolo, mas alguns passos e reflexões contribuem para repensar e se apropriar do futuro. Quer saber mais?

Flávia Feitosa

Psicóloga, PhD em Psicologia Social, professora e especialista em desenvolvimento humano.

Verônica Esteves

Psicóloga, consultora organizacional e coach.