Desde o advento da industrialização, a preocupação com a melhoria do desempenho e resultados das empresas é um tema constante, sendo Ford e Taylor exemplos de autores que sempre se preocuparam em alcançar melhores resultados ao abordarem esses temas.
A consequência direta de estudos relacionados ao desempenho resultou em uma gama de modificações na gestão do trabalho. Os avanços alcançados por esse novo sistema de ciência e arte da administração e da gestão de pessoas ajudaram a aprimorar um olhar crítico para as condições de trabalho, com o intuito de gerar melhores resultados para as empresas. No entanto, o subproduto desse movimento foi a constatação de que o sistema de produção precisa necessariamente olhar de forma mais sistemática para as pessoas envolvidas nesse processo. Diante da modernidade e sua complexidade, muitos outros temas transversais passam a surgir, demonstrando que cada vez mais é necessária uma ênfase e um olhar específico e cuidadoso nas pessoas.
Estudos recentes sobre os “Millennials” – a geração que constituirá cerca de 70% dos postos de trabalho na próxima década, mostram de forma inequívoca que seus comportamentos são relativamente parecidos com os das gerações anteriores, não fazendo sentido a insistência em estereótipos como o de que seriam irresponsáveis e incapazes de respeitar hierarquias ou de que seriam imediatistas e intolerantes e, portanto, em busca de uma carreira meteórica evitando frustrações.
Por outro lado, a juventude também permanece sendo uma grande catalisadora do Espírito da Época – Zeitgeist, como já disseram BOURDIEU, (1983) e MORIN (1977), e da modernidade líquida (BAUMAN, 2001) onde a fluidez requer a flexibilidade de uma sociedade que não se fixa no espaço e não se prende no tempo, movimentando-se livremente. Este conceito de líquido se dá porque “diferentemente dos sólidos, não mantém sua forma” (BAUMAN, 2001, p. 8), isto é: a própria sociedade atual passa por constantes mudanças e está sempre se renovando, sendo a nossa juventude uma catalisadora deste movimento. Assim sendo, essas mudanças se transformam em desafio constante para o mundo do trabalho; não porque temos novos jovens ou novas formas de atuar, mas porque o mundo contemporâneo permite e exige produção de significado.
A liderança como peça chave dessas demandas é elemento constitutivo da história da humanidade. A figura do líder, que assume posição de destaque em um grupo, é necessariamente a catalisadora da influência nos demais, sendo responsável por modificar atitudes, opiniões e comportamentos daqueles sob sua inspiração, tornando-se assim um exercício de poder capaz de unir as pessoas dentro de um determinado período para atingir um objetivo em comum. Nos últimos cem anos, o tema tem sido inspiração para inúmeros estudos acadêmicos e foco de investimento de toda organização que se preocupa com as questões envolvendo resultados, equipes e pessoas que movem seus negócios, num cenário cada vez mais competitivo e exigente.
No mundo contemporâneo, a influência de poder que chamamos de liderança se dá a partir do significado construído e compreendido pelos grupos e não mais por intermédio do uso do poder de coerção ou correlatos, uma vez que o distanciamento histórico nos mostra que esta abordagem tem menor efeito no significado e constitui tempo perdido na busca do alcance dos resultados. Sabemos hoje também que a liderança independe do cargo de gestão, o que é especialmente relevante para o cenário organizacional contemporâneo, momento em que a hierarquia é cada vez menor e a colaboração cada vez mais enfatizada e necessária.
Ao focarmos na liderança no contexto do século XXI, devemos levar em conta que muitas organizações são atualmente compostas por times ou células onde não há mais espaço para a gestão tradicional que vem sendo cada vez menos aplicada. Vale também lembrar que hoje o desenvolvimento dos gestores e das pessoas não é mais exclusividade do RH e do líder.
Entramos então no campo de conhecimento que engloba o Coaching, um conhecimento técnico que permite aprimorar o desempenho das pessoas a partir de um modelo focado em Metas, Realidade, Opções e Vontade (WITHMORE, 2012), baseado em Consciência e Responsabilização.
Os princípios desenvolvidos para o Coaching permitem que as pessoas tomem consciência de si a partir de análise ou aproximação da sua reputação por intermédio de uma auto-avaliação com uso de ferramentas específicas, ajudando assim em seu desenvolvimento e estabelecendo planos concretos de ação. Esta abordagem serve tanto para líderes (e suas próprias necessidades de melhorias) quanto para o olhar dos destes para com as pessoas ao seu redor, sendo uma ferramenta essencialmente eficaz para ser aplicada também em times e na relação entre pares.
A consciência do indivíduo sobre sua reputação gera um desafio a ser superado e, por consequência, um foco pelo qual é possível estabelecer suas necessidades de desenvolvimento, oferecendo ao indivíduo uma clareza sobre si, permitindo que se tome decisões concretas para superar essas deficiências.
O Coaching não se limita apenas às questões de relacionamento interpessoal, sendo também muito útil para estabelecer foco para os negócios nas empresas, aplicando-os nas linhas de produtos ou nos planos de carreira, entre outras inúmeras possibilidades. O método definitivamente não é mágica apesar de parecer: a partir do momento em que temos clareza dos nossos objetivos, não criando focos paralelos, passamos a ter certeza do que queremos e do que precisamos fazer ou alterar na nossa rotina para sermos mais eficientes, agindo dentro de nossos limites e, portanto, nos tornando muito mais eficazes.
O mundo contemporâneo já não aceita mais uma liderança estrutural inflexível onde somente damos ou recebemos ordens. O novo milênio exige o Ser Humano integral, capaz de dialogar na sua riqueza de sentidos e possibilidades. A vida moderna nos permite e exige flexibilidade e mobilidade. Assim, participar de uma empresa e desenvolver um plano profissional, são tarefas hoje alcançáveis se o Coaching e suas ferramentas estiverem cada vez mais presentes na vida de líderes, professores e gestores.
Flávia Feitosa
Doutora (USP) e Mestre (LSE University of London) em Psicologia Social, Psicóloga (PUC-SP) e Coach (Ecosocial e PROFIT), PCC pela ICF.
Professora na ESPM, FGV e Casa do Saber. Especialista em Liderança e CNV.
Curadora do Homines Scientiae (facebook e instagram)
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2001.
BOURDIEU, P. A “Juventude” é Apenas uma Palavra. Questões de Sociologia, p. 112-121. Rio de Janeiro: Editora Marco Zero. 1983
MORIN, E. Cultura de massas no século XX: o espírito do tempo. Rio de Janeiro: Forense: Forense Universitária, 1977.
WITHMORE, J. Coaching para aprimorar o desempenho: os princípios e a prática do coaching e da liderança. São Paulo: Clio Editora, 2012.